KAFRICAR OS POBRES PARA PROTEGER A ELITE

“A retirada do subsídio aos combustíveis em momento de crise social e económica é uma medida a contra corrente e uma prova de que o Presidente da República, João Lourenço, quer que os pobres paguem a factura da crise, enquanto ele e o seu grupo se protegem”. A observação é do vice-presidente do Bloco Democrático (BD) e cientista político, Nelson Pestana Bonavena, em declarações exclusivas ao Folha 8.

Por Geraldo José Letras

Para o vice-presidente do BD, Nelson Pestana Bonavena, a retirada do subsídio aos combustíveis conforme Decreto Presidencial tornado público em 07 de Março com entrada em vigor a partir do próximo dia 30 de Abril é uma medida a contra corrente, “não faz sentido”.

“A primeira fase da retirada dos subsídios aos combustíveis já vimos que agravou a situação social e económica da população. O que o João Lourenço está a dizer aos angolanos é que ele quer que os pobres paguem a factura da crise, enquanto ele e o seu grupo se protegem, sem querer comparticipar no sentido de todos pagarmos a factura da crise, porque a crise está aí, está instalada e vai continuar”, considerou.

Preocupado com a recessão económica que o país vive com gravidade acentuada desde o segundo ano do primeiro mandato de João Lourenço na Presidência da República, o cientista político avisa que até 2027, os angolanos vão continuar ano pós ano cada vez mais pobres, devido ao crescimento da população que não acompanha o crescimento da produção nacional nem da economia, bem como da inexistência de política de distribuição equitativa da riqueza nacional.

“O crescimento económico previsto pelo governo é de 1.5%, o que os analistas e as organizações multilaterais dizem é que não vai passar de 1%. Ora, a população está a crescer a 3,2%, o que quer dizer que estamos numa situação de recessão. Estamos a produzir menos do que aquilo que precisamos, o que quer dizer que todos os anos vamos continuar a empobrecer, isso vemos pelos salários. Os salários nominais há muito que não são actualizados em função da inflação, mas os salários reais ainda estão pior, porque cada vez mais se compra cada vez menos com o salário que temos, o que quer dizer que continuamos a ser empobrecidos através da política económica que temos e não há política social, o estado social não funciona”, explica Nelson Pestana Bonavena.

“Não defendemos só mais produção, defendemos também mais critério na distribuição da riqueza que temos, porque 52 a 53% vai para a dívida que eles fizeram, mas o que sobra tem que ser mais distribuído de forma mais equitativa em todas as camadas sociais. É claro que temos que incentivar a produção para criar riqueza, mas o problema não é só a criação de riqueza, mas também a distribuição da riqueza”, diz Nelson Pestana Bonavena, acrescentando: “Mas antes mesmo da distribuição da riqueza é a estrutura da distribuição das oportunidades. Nós temos que dar mais oportunidades a todo um conjunto de pessoas que não têm oportunidade nenhuma. O subdesenvolvimento e o índice de pobreza reproduz-se de geração em geração, e essa é a solução, não só para as pessoas, mas para que o país também possa vencer, para que o país possa ser um país moderno, e com desenvolvimento sustentado”.

Por isso, vice-presidente do Bloco Democrático reclama pelos angolanos um governo humanista e patriota, porque “a elite gasta mais do que a maioria da população contra os quais o governo procura alargar a sua base tributária”.

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